sexta-feira, 27 de novembro de 2009

SHOW DE HORRORES EM PONTA GROSSA

Show de horrores em Ponta Grossa

Nos debates que participei no colégio sempre escutei a seguinte frase: “a área da saúde é precária”, que faltava medicamentos, médicos e funcionários eu sabia. Só não imaginava que esses poucos funcionários na maioria auxiliar de enfermagem podiam tratar o ser humano de uma maneira tão grotesca, como eu e muitos outros foram tratado do “pronto atendimento”.
Poucas as vezes que precisei ir ao Pronto Socorro, não só por usar o sistema particular mas também porque sou nova, tenho 17 anos e nunca fiquei doente de verdade. Mas esta quinta feira fui acordada pelo meu namorado , joão , que sentia muita dor e queria saber aonde poderia ir, logo eu citei o Pronto Socorro, mas que arrependimento... ao meio dia volta ele dizendo que o médico diagnosticou Rotavirus, um pouco fora do comum dos sintomas que ele apresentava. As oito da noite resolvo ligar para minha tia, enfermeira do P.S.F e contar que ele ainda se queixava de dores, lá vamos nós de novo para o PS enfrentar uma fila de gente aglomerada, gemendo, abanando, e cuspindo pelos chão do Pronto Atendimento.
Ao conversar com o médico “miojo” (3 minutos) suspeitou-se que era Apendicite, começou o corre corre de exames, três horas já haviam passado e nada, quando consultamos novamente com outro medico, usei dos poucos artifícios que me restavam, a influencia familiar para “agilizar”, mesmo assim depois de cinco horas ter passado por 3 médicos diferentes o diagnostico era Apendicite tinha que ser operado mas só podíamos conseguir vaga para internamento assim que fosse feito o ultimo exame o ultra-som, pois o medico que liberava o internamento era muito crítico.
Estávamos lá presos num ambiente sujo, fétido ouvindo uma mulher gemer a horas em uma maca logo na entrada, vendo um garoto ensangüentado por ter bebido demais e entrado em briga e uma mulher vestida em trapos, com o rosto ensangüentado e todo queimado por uma panela de pressão. Oh meu Deus era muita coisa horrível pra uma quinta feira.
Freqüentemente eu via auxiliares de enfermagem rindo trancados na farmácia, aquele clima pesado foi me deixando angustiada. Eu queria sair dali, procurei varias vezes por um enfermeiro ou pelo médico para que meu namorado já medicado parecendo um queijo suíço de tanto que erraram a veia do coitado, pudéssemos ir embora, recebi risos e palavras debochadas de dois homens grandes de jaleco branco.
Depois da mãe do João correr atrás de vagas de madrugada por vários hospitais com o coração na mão de ver o filho de vinte e um anos sofrendo daquele modo, resolvemos assinar um termo de responsabilidade e ir embora. As recomendações foram jejum absoluto e deveríamos comparecer no dia seguinte as 7 da manha para o ultra-som.
Sexta feira 27/novembro/2009, hoje acordamos cedo para comparecer as 7h no PS,ao chegar esperamos até as oito para marcar o ultra-som enquanto isso o João fez exames de urina e sangue(novamente) que ficariam pronto as 10h30min. Com os exames na mão, menos o ultra-som ainda aguardávamos.Disseram que só seria marcado para a tarde e que poderia demorar entre 2 a 5 horas não agüentávamos mais!Ele não comia a muito tempo e se queixava de muita dor. O que fizemos? Ultra-som particular. E sabe o que? Não deu nada!
Levamos os exames para consultar com outro medico de novo no PS ele foi liberado para comer e tomar soro com remédios.
Fazia meia hora que o soro tinha acabado e eu procurava uma auxiliar para tirar o soro ele tinha que ser internado, afinal, Apendicite não é grave? O médico disse que apesar do ultra-som não apresentar diferença os sintomas estavam lá. Tinha uma mulher com o braço inchado pela agulha ter escapado da veia, vi também outro homem com o sangue subindo pelo caninho do soro, me obriguei a eu mesma retirar a agulha do meu namorado, fazia quase uma hora que não aparecia uma alma viva de jaleco branco.
Implorando vagas para vários hospitais usando e abusando da influencia da minha família e dos “amigos” da minha tia eram 14h30 e nada do internamento, os resultados dos exames não eram suficientes. Fomos para casa, assinamos outro pedido de alta e aguardamos um telefonema para quando tivesse leito.
15h o telefonema aguardado chega levamos para o Hospital Bom Jesus mesmo pelo SUS o atendimento superou todas as expectativas um alivio para o meu coração para o de toda família e amigos, amanha ele opera, e fica bem.
Não acho justo ter que passar por todo esse perrengue para ter uma coisa que é nosso direito, a saúde de qualidade, o povo sofre e agente sofreu menos pelo fato da minha família ter certa influência e poder ajudar, mas aqueles ali que estão esperando uma ambulância? E aquele cara com o dedo decepado no corredor? E a mulher que gemeu a noite toda? O velinho com um coágulo no caninho do soro? A outra menina com suspeita de apendicite que também aguardava o dito cujo ultra-som? E aqueles olhos vermelhos de cansaço e dor dela quem intercede por eles? E por toda a população sofrida que agüenta aquele fedor aquele sarcasmo e ainda tem que agüentar seus corpos doentes. Quem vê? Quem faz?


L.C

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